segunda-feira, 13 de abril de 2015

PERFIL DA MORTALIDADE POR CAUSAS EXTERNAS NO MUNICÍPIO DE DIVINÓPOLIS (MG), 2003 A 2012

As causas externas podem ser classificadas como acidentais (acidentes de trânsito, quedas, etc.) e intencionais (suicídios e homicídios).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), anualmente, as causas externas são responsáveis por mais de cinco milhões de mortes em todo o mundo, representando cerca de 9% da mortalidade mundial (1).
No Brasil, como praticamente em todos os países do mundo, as causas externas destacam-se entre as principais causas de mortalidade e de morbidade, passando a figurar entre as três principais causas de morte na maioria das regiões brasileiras, colocando-se em nosso país como importante problema de saúde pública. Além da elevada freqüência com que ocorrem e de serem a principal causa de mortalidade de adolescentes e adultos jovens brasileiros, deixam milhares de pessoas incapacitadas, provocando ainda uma sobrecarga nos serviços hospitalares, principalmente os de urgência e emergência.
As causas externas representam elevado custo para a sociedade, provocando consideráveis impactos sociais e psicológicos nas vidas dos indivíduos e das famílias.

METODOLOGIA E FONTE DE DADOS

Trata-se de um estudo descritivo dos óbitos por causas externas ocorridos em pessoas residentes no município de Divinópolis – MG entre os anos 2003 a 2012.
O banco de dados utilizado foi o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), composto por informações provenientes das declarações de óbito. Os dados do SIM foram obtidos do DATASUS/Ministério da Saúde. Foram selecionados os óbitos classificados no Capítulo XX da 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), utilizando-se nas análises os óbitos por local de residência em Divinópolis.
Os dados sobre a população foram coletados do DATASUS, cuja fonte de dados é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

OBJETIVO

O objetivo deste estudo é apresentar alguns indicadores da mortalidade por causas externas em Divinópolis (MG) no período de 2003 a 2012, com enfoque em 2012.


RESULTADOS


Analisando o período 2003-2012, verifica-se que os óbitos por causas externas ocuparam o terceiro ou o quarto lugar entre as causas de morte no município, mas sempre em lugar de destaque. No ano de 2012, ocorreram 1.203 óbitos por causas definidas de pessoas residentes em Divinópolis. Destes, 140 foram por causas externas (tabela 1).  
.
Tabela 1: Principais causas de óbitos por grupos da CID-10 - Divinópolis (MG), 2003 a 2012
Capítulo CID-10
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Doenças do ap. circulatório
344
355
389
378
320
360
388
333
336
354
Neoplasias (tumores)
149
163
170
157
158
199
242
221
234
244
Causas externas
94
123
106
100
110
89
118
113
146
140
Doenças do ap. respiratório
121
108
120
119
122
114
133
133
107
120
Doenças endócrinas nutr. e metabólicas
58
59
55
62
63
82
78
89
66
75
Doenças do ap. digestivo
44
56
56
58
75
48
64
76
72
71
Demais causas definidas
153
156
159
158
151
169
143
224
197
199
TOTAL
963
1.020
1.055
1.032
999
1.061
1.166
1.189
1.158
1.203
Fonte: SIM/MS/NEEPI
Nota: excluído o grupo de causas mal definidas.
  

Analisando especificamente os óbitos por tipos de causas externas observa-se que quatro agravos ocupam lugar de destaque: os homicídios, os acidentes de trânsito, os suicídios e os afogamentos. A taxa de mortalidade por acidentes de trânsito permaneceu destacadamente na liderança das causas no período de 2003 a 2011, sendo ultrapassada em 2012 pelos homicídios (tabela 2). No período analisado, os coeficientes de mortalidade por homicídios cresceram 328%, passando de 4,6 por 100 mil habitantes em 2003 para 19,7 em 2012. Os suicídios tiveram um aumento de 57,7% comparando-se 2003 com 2012.
  
Tabela 2 - Coeficiente de mortalidade (por 100 mil hab.) segundo o tipo de causa externa de residentes em Divinópolis (MG), 2003 a 2012











Causa CID-10
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Homicídios
4,6
9,6
7,8
4,8
9,9
6,1
12,0
8,9
13,9
19,7
Acidentes Trânsito
21,1
24,3
21,5
20,2
19,8
17,3
21,3
22,1
25,6
17,4
Suicídios
5,2
9,1
7,8
9,6
5,2
10,8
7,9
8,5
3,7
8,2
Afogamentos
5,7
4,6
3,4
3,4
4,7
1,9
4,2
1,9
1,4
4,1
Quedas
2,1
4,1
2,9
3,8
2,4
1,9
1,4
3,8
4,2
2,3
Intenção indeterminada
5,2
4,6
1,0
0,5
1,4
0,5
1,9
1,4
9,3
3,7
Outros
3,6
5,1
6,9
5,3
8,5
2,3
6,0
6,6
9,8
8,7
Total
49,5
63,4
52,4
48,6
52
42,7
54,6
53
67,8
64,1
Fonte: SIM/MS/NEEPI
Nota: excluído o grupo de causas mal definidas.
   
Durante o período de 2006 a 2009 homicídios e suicídios alternaram-se nas posições de segundo e terceiro lugar das causas externas de morte (gráfico 1).
   
                 Fonte: SIM/MS/NEEPI
                Nota: excluído o grupo de causas mal definidas

Analisando especificamente o ano de 2012, os óbitos por causas externas representaram 11,6% do total de óbitos por causas definidas, ficando as doenças do aparelho circulatório (29,4%) como primeira causa de morte, seguidas das neoplasias (20,3%) (gráfico 2).




                  Fonte: SIM/MS/NEEPI
                  Nota: excluído o grupo de causas mal definidas.
                                  

Na tabela 3 observa-se que no ano de 2012, na faixa etária dos 5 aos 49 anos, o grupo dos acidentes e violências representou a primeira causa de morte, sendo maiores os percentuais nas faixas etárias de 15 a 19 anos e de 20 a 29 anos, equivalendo a 84,6% e 77,8%, respectivamente..
Tabela 3: Mortalidade Proporcional (%) de residentes em Divinópolis (MG) segundo principais grupos de causas e faixa etária, 2012












Grupo de causas
Faixa etária (anos)


 0-4
 5-9
 10-14
15-19
20-29
30-39
40-49
50-59
60-69
70-79
80 e +
Total

Doenças do ap. circulatório
2,9
0,0
0,0
0,0
0,0
11,9
21,0
26,4
33,7
36,4
37,8
29,4

Neoplasias (tumores)
-
0,0
0,0
0,0
3,7
22,0
21,0
32,7
26,8
23
13,7
20,3

Causas externas
-
50,0
50,0
84,6
77,8
44,1
22,0
5,7
3,9
2,5
4,2
11,6

Doenças do ap. respiratório
-
0,0
0,0
7,7
0,0
1,7
4,0
5,0
7,3
10,9
19,3
10,0

Doenças endócrinas
-
0,0
0,0
0,0
1,9
1,7
2,0
5,7
10,7
8,4
6,0
6,2

Doenças do ap. digestivo
-
0,0
50,0
0,0
7,4
3,4
8,0
10,7
6,3
4,2
4,8
5,9

Demais causas definidas
97,1
50,0
0,0
7,7
9,3
15,3
22,0
13,8
11,2
14,6
14,3
16,5

Total
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0

Fonte: SIM/MS/NEEPI
Nota: excluído o grupo de causas mal definidas.


Verificando o percentual dos óbitos segundo o tipo de causa externa vemos que os homicídios apareceram em primeiro lugar com 30,7% das mortes, em seguida vêm acidentes de trânsito (27,1%). Outro dado que nos chama a atenção é o elevado percentual de suicídios com 12,9% das causas externas (gráfico 3).



       Fonte: SIM/MS/NEEPI
       Nota: excluído o grupo de causas mal definidas.



A distribuição dos óbitos por sexo e tipo de causa externa mostrou que o risco de morrer é 4,8 vezes maior entre os homens em relação às mulheres (108,1/22,3). Este risco é maior quando observadas as mortes por acidentes de trânsito, homicídios e suicídios, sendo que o risco de morte por homicídio entre os homens foi cerca de 21,6 vezes maior (38,5/1,8) em comparação às mulheres (tabela 4).
.
Tabela 4: Número absoluto, freqüência de óbitos e taxa específica de mortalidade (por 100 mil hab.) de residentes em Divinópolis (MG) por causas externas segundo o sexo, 2012












Categoria CID10
Masculino
Feminino
Total
%
Taxa
%
Taxa
%
Taxa
Acidentes de trânsito
34
29,6
32,0
4
16,0
3,6
38
27,1
17,4
Homicídios
41
35,7
38,5
2
8,0
1,8
43
30,7
19,7
Intenção indeterminada
6
5,2
5,6
2
8,0
1,8
8
5,7
3,7
Quedas
3
2,6
2,8
2
8,0
1,8
5
3,6
2,3
Suicídios
13
11,3
12,2
5
20,0
4,5
18
12,9
8,2
Afogamentos
7
6,1
6,6
2
8,0
1,8
9
6,4
4,1
Demais causas
11
9,6
10,3
8
32,0
7,1
19
13,6
8,7
Total
115
100,0
108,1
25
100,0
22,3
140
100,0
64,1
Fonte: SIM/MS/NEEPI
Nota: excluído o grupo de causas mal definidas.



Com relação à idade (tabela 5) o grupo de 20 a 49 anos foi o que apresentou o maior número absoluto de óbitos por causas externas, representando 64,3% do total. A faixa etária de 20 a 29 anos teve o maior percentual (30,0%) e um coeficiente de 108,7/100.000 hab.
A faixa etária onde se verificou o maior risco de morte por causas externas foi a de 80 anos e mais com um coeficiente de 404,6/100.000 habitantes.  
Tabela 5: Número absoluto, freqüência de óbitos e taxa específica de mortalidade (por 100 mil hab.) por causas externas segundo a faixa etária e sexo, Divinópolis (MG), 2012














Faixa Etária (anos)
Masculino
Feminino
Total
%
Taxa
%
Taxa
%
Taxa
5 a 9
1
0,9
14,8
0
0,0
0,0
1
0,7
7,5
10 a 14
1
0,9
11,9
0
0,0
0,0
1
0,7
6,2
15-19
10
8,7
115,3
1
4,0
11,7
11
7,9
64,0
20-29
38
33,0
195,3
4
16,0
20,9
42
30,0
108,7
30-39
21
18,3
120,4
5
20,0
27,8
26
18,6
73,4
40-49
20
17,4
126,6
2
8,0
11,3
22
15,7
65,6
50-59
8
7,0
64,2
1
4,0
7,3
9
6,4
34,5
60-69
6
5,2
89,6
2
8,0
25,3
8
5,7
54,7
70-79
4
3,5
115,2
2
8,0
43,6
6
4,3
74,5
80 e+
6
5,2
481,5
8
32,0
361,3
14
10,0
404,6
Total
115
100,0
108,1
25
100,0
22,3
140
100,0
64,1
Fonte: SIM/MS/NEEPI

Nota: excluído o grupo de causas mal definidas.




A distribuição dos óbitos segundo o tipo de causa e a faixa etária (gráfico 4) mostra significativo número de mortes por homicídios no grupo de idade de 15 a 49 anos, concentrando-se na faixa de 20 a 29 anos. O número de óbitos por acidentes de trânsito atinge seu auge na faixa etária de 20 a 39 anos, enquanto a mortalidade por suicídios foi maior na faixa etária de 30 a 49 anos
 

Fonte: SIM/MS/NEEPI
Nota: excluído o grupo de causas mal definidas.


DISCUSSÃO

Em Divinópolis (MG), os homicídios, acidentes de trânsito e suicídios representaram as principais causas entre os óbitos por causas externas no período analisado. Alguns estudos relacionam o aumento do número de homicídios ao agravamento das desigualdades sociais, posse ilegal de armas e ao tráfico de drogas (2, 3, 4). O incremento da mortalidade por acidentes de trânsito pode ser explicado pela ampliação da frota de veículos (principalmente motocicletas para uso particular e transporte de passageiros), condições de sinalização e estado de conservação das vias públicas e ainda o descumprimento das Leis de Trânsito (direção sob efeito de álcool, excesso de velocidade, inexperiência e/ou imprudência de motoristas, não uso de equipamentos de segurança) (2,5). Quanto ao suicídio, há fatores fortemente associados a ele como: tentativas anteriores de suicídio, ausência de apoio social, eventos estressantes e características sociodemográficas, tais como desemprego e pobreza (6). Vale ressaltar a divergência de achados na distribuição dos óbitos por homicídios e suicídios quando se compara os dados do município com os do Brasil. Neste, a mortalidade por homicídios é nitidamente superior à referente aos suicídios, mantendo este predomínio ao longo de todo o período analisado, enquanto que no município de Divinópolis, tem-se uma alternância da posição entre essas duas causas. Este padrão de oscilação caracterizado por quedas e elevações das taxas de homicídios e suicídios num intervalo de tempo relativamente curto exigem uma investigação mais detalhada relativa às circunstâncias em que se deram os eventos no município.
O presente estudo traz evidências de que os óbitos por causas externas atingem predominantemente indivíduos jovens do sexo masculino. Em relação à idade, pesquisas apontam que a vulnerabilidade no grupo etário de 20 a 29 anos está relacionada a determinados comportamentos como a busca de emoções, o prazer em experimentar situações de risco, a impulsividade e o abuso de substâncias psicoativas (7).

CONCLUSÃO

Diante dos resultados enfatiza-se que a análise e a divulgação da tendência e magnitude do padrão de mortalidade por causas externas são elementos importantes para a compreensão do problema e o planejamento de políticas públicas que visem à modificação do atual cenário do município, considerando-se que as causas externas podem ser evitadas.
Compreender a distribuição de fenômenos como a violência letal contra adolescentes constitui um grande desafio para a elucidação do problema e para entender padrões e dinâmicas que podem ser fundamentais para o desenvolvimento de ações de prevenção.
Diversos determinantes encontram-se envolvidos no processo de causalidade das mortes por causas externas, o que exige que as medidas de prevenção também estejam voltadas para as causas que as originaram. Para tanto, faz-se necessária a união de todos os setores da sociedade, priorizando um enfoque intersetorial e integral do indivíduo (8).
Um maior aprofundamento do estudo da mortalidade por estas causas faz-se necessário visando à obtenção de um perfil mais completo da situação e, conseqüentemente, informações que permitam conhecer, além das causas dos óbitos de forma mais detalhada, as tendências, os grupos da população mais vulneráveis, sua distribuição espacial bem como apontar determinantes e abordagens preventivas diferenciadas.


 Fonte: NEEPI - Núcleo de Estudos Epidemiológicos - Divinópolis (MG), Março de 201
Secretaria Municipal de Saúde de Divinópolis

Núcleo de Estudos Epidemiológicos (NEEPI):
Ivanete Ferreira (Coordenadora Suplente), Maria das Graças Pequeno, Mirna de Abreu e Silva,                         Osmundo Santana Filho (Coordenador), Tânia Stark de Almeida Delgado.
Rua Minas Gerais, 900 - Centro - CEP: 35.500-007- Fone: (37) 3229-6800
E-mail: neepidiv@gmail.com

  

BIBLIOGRAFIA

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  1. Viana LA, Costa MC, Paim JS, Vieira-da-Silva LM. Social inequalities and the rise in violent deaths in Salvador, Bahia State, Brazil: 2000-2006. Cad. Saúde Publica. 2011; 27(Suppl 2): S298-308.

  1. Duarte EC, Tauil PL, Duarte E, Sousa MC, Monteiro RA. Mortalidade por acidentes de transporte terrestre e homicídios em homens jovens das capitais das regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, 1980-2005. Epidemiol. Serv. Saúde. 2008; 17(1): 7-20.

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  1. Souza MFM, Malta DC, Conceição GMS, Silva MMA, Carvalho CG, Morais-Neto OL. Análise descritiva e tendência de acidentes de transporte terrestre para políticas sociais no Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde, 2007; 16(1); 33-44.


  1. Andrade-relator, Fernanda Catherine Alves de et al. Mortalidade por causas externas: dimensão e distribuição na cidade do Rio de Janeiro. 2007.